sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Num posto no centro

Acabava de parar no posto de gasolina para abastecer. Encostado ao carro não pude deixar de reparar no casal sentado de frente para mim, num balcão da loja de conveniências, por trás do vidro que enclausura a lojinha.
Um casal jovem e bonito. O rapaz bebia uma cerveja, a garota um guaraná. O rapaz falava empolgadamente (e empolgantemente), ria muito. Colocava as mão no joelho, cruzava os braços, perguntava-lhe algo ou simplesmente esperava um retorno. Que era dado imediatamente, enquanto a moça continuamente acariciava seus longos cabelos negros, como se tentasse esticá-los ainda mais.
A conversa era entusiasmante e animada. Num rompante de expressão corporal, com os braços largamente abertos, ele solta uma piada ou algum comentário engraçado, como se fechasse um ato. Ela ria franca e abertamente, no mesmo instante ele se levanta, vira as costas e vai em direção à geladeira, onde restam mais cervejas. Durante a ausência do rapaz, ela permaneceu na gargalhada hilária, demonstrando ao mundo que a frase a pouco dita era realmente engraçada ou que ela está perdidamente interessada no rapazote. Ele volta, se insinua numa espécie de passo trôpego de dança, é recompensado com os belos dentes da moça à mostra novamente. Ainda rindo, abre a cerveja, dá-lhe um belo gole. E volta a conversa.
Enquanto isso eu pago a conta, entro no carro, ligo a Corinne, dou passagem a um senhor com um crachá preso ao bolso da camisa de botão por um clipe, subo a Bandeira Tribuzzi e sumo no largo horizonte da Holandeses.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Meu caminho

Na volta do trabalho para casa uso sempre o mesmo caminho. Desço na parada de ônibus em frente ao supermercado cruzo a avenida de quatro faixas e entro na vizinhança por uma rua asfaltada com belas casas.
Pouco antes de alcançar a entrada do meu condomínio, para encurtar o caminho, cruzo em diagonal um terreno baldio por uma trilha entre o mato e os detritos. Desta trilha já conhecia tudo. Seu ponto correto de entrada não era o óbvio, tem que se fazer um leve desvio na calçada. Conhecia todos os seus obstáculos. As espécies de mato que ali proliferavam sem se intrometer na minha trilha. Havia flores belíssimas, mesmo sendo de mato. Eu era conhecido de todos os vira-latas, eu não os importunava e nem eles a mim. Era amigo do jumentinho que se alimentava sempre amarrado, e me livrava facilmente de suas minas terrestres deixadas no caminho. Esse não respeitava minha trilha. Sabia das pedras e dos galhos. Dos montes de areia e de barro. Da metralha e do lixo deixado no canto do muro.
Mas as chuvas começaram e voltei a usar meu carro diariamente. Além disso, me ausentei por um tempo dos meus caminhos diários.
Hoje não há mais minha trilha. Ervas daninhas, matos feios e espinhentos, tomaram conta do meu caminho diário e servem hoje, provavelmente, de abrigo a animais peçonhentos. A lama tomou o lugar do chão pisado e resistente. O jumento sumiu e os cães parecem um tanto estressados. O lixo se espalhou por todo canto e há muito mosquito.
Quase não chego em casa esse dia.
Mudei meu caminho.