domingo, 28 de outubro de 2007

Qual foi mesmo o filme que ele fez?

- Qual foi mesmo o filme que ele fez?
Veio ao meus ouvidos esse pergunta proferida por uma senhora que aplaudia com força e veemência o velhinho que passava, amparado por alguns seguranças devido ao forte assédio do público, para proferir uma palestra.
- Foi o Auto da Compadecida e a Pedra do Reino, que passou na Globo.
- Ah....
Esse rápido diálogo demonstra mais ou menos o clima que pairou na palestra do mais novo ludovicence velho, Ariano Suassuna, e como ele está velho, hein? Havia muita gente, muita mesmo, mas havia uma certa interrogação no ar, muita gente estava ali realmente devido à Globo. Que bom que muita gente estava ali, e inclusive melhor ainda, que bom que havia muita gente em todos os dias da I Feira do Livro de São Luís, mas voltando, que bom que muita gente estava ali para ver o velho que fez o "filme" para a Globo.
Depois de alguns dizeres sobre religião, coisa que eu pulo, o velhinho deu um show sobre cultura brasileira, especialmente sobre a negra. Sempre com aquele seu bom humor característico e sua perspicácia danada, o velhinho ainda segura forte a bandeira do nosso nordeste e que continue assim por muitos anos ainda, não podemos ficar órfãos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Algumas coisas

Meu Cachorro é brasileiro legítimo

Sempre disposto a agradar e a agradecer. Sempre feliz e disposto, animado com brincadeiras sem graça e repetidas. Uma pessoa totalmente satisfeita com suas possibilidades, companheiro ao extremo. Nunca desiste de convidar-nos para uma corrida.
Mas não é por nada disso que o considero um brasileiro legítimo. Chego a essa conclusão pois, apesar de toda liberdade que tem de andar solto na rua, ele só se sente feliz mesmo quando sai preso à coleira.

Nós merecemos

Na rodoviária da empresa:
- E aí Branco, está gostando do novo trampo?
- Rapaz é bom de mais, estou como almoxarife.
- Massa! É moleza, né não?
- É! E ainda: tem muito sabonete e cadeado, muito que sobra, quer uns para você? Eu consigo facinho!
- Não, valeu.
- Besteira rapaz, eu arranjo....
- Quero não, preciso não.
- Besteira, sou eu que controlo, se não, estraga....
- Valeu, mas não, deixa pra depois....

Nação Zumbi no Ceprama

Na noite passada a Nação Zumbi, pela primeira vez na ilha, mostrou que continua em plena forma. O show foi no Ceprama, no bairro da Madre Deus, berço da cultura folclórica maranhense e a poucos metros do mangue. Não podia ser melhor.
Lúcio Maia continua foda na guitarra, pegada massa. E as novas músicas também têm mantido, realmente, o excelente nível que a Nação alcançou. Além de dar uma amenizada na saudade do Chico.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Raízes

As ligações entre os diversos estilos de música popular brasileira são previsíveis e na maioria das vezes conhecidas, atribuídas à formação étnica do povo brasileiro. Mas são sempre surpreendentes.

Quando cheguei pela primeira vez em São Luís do Maranhão, ignorante quanto à cultura local, fui desacreditado a um arraial, quando me deparei com a força do Bumba-boi de Matraca (ou de sotaque de matraca). Mais especificamente o Bumba-boi de São José de Ribamar. Sotaque esse totalmente ligado ao Maracatu de Baque Virado pernambucano. A batida forte e ritmada. A presença marcante dos instrumentos percursivos e originais. O maracá, o pandeirão, o tambor-onça e, milhares do instrumento que lhe dá nome, a matraca. Dois pedaços de pau. Os adereços dos brincantes reforçam ainda mais o parentesco próximo dos dois estilos, especialmente os do caboclo de pena. Isso me marcou.

Outra vez, numa ilha do atlântico isolada do interior paraense chamada Ilha do Algodoal, sentado numa barraquinha à beira-mar comendo sarnambi e tomando aquela gelada, me vem aos ouvidos um som que me lembrou imediatamente o Maracatu, agora, o de Baque Solto. A semelhança com o trabalho do Siba, Barrachinha e Fuloresta do Samba foi surpreendente. Perguntei a algum morador, talvez fosse o garçom que nos atendia, o que era aquilo: era um grupinho de carimbó de nativos da ilha, que viviam no outro extremo. Chapei. No mesmo dia à noite, na mesma barraca, sob uma lua fora do normal e estrela a dar com um pau, houve uma apresentação de carimbó. Massa.

Enfim, e por fim, baixei esses dias um disco de Noel Rosa. Que susto: era Bumba-boi de Sotaque de Orquestra soprando nos meus ouvidos. Não era samba, não. De jeito nenhum. E Noel canta boi ou samba? Cada vez vejo que as raízes do samba são as mesmas do boi que são as mesmas do maracatu que são as mesmas do forró. O que as diferenciou ao longo do tempo foi os gênios dos seus mestres e o isolamento ou não da região de seus mestres.

Grandes mestres.